Minha avó me ama
Esta noite eu tive um sonho.
Sonhei com um filme.
Um curta de aproximadamente seis minutos
Que devo ter visto em alguma mostra, isso me lembro
Acordei por causa desse sonho, por causa desse filme,
Por causa dessa história
Insônia pela madrugada...
Era estrangeiro, talvez de origem israelense
E lembro-me vagamente de alguma cena,
Se não me engano, uma única tomada
E duas personagens: uma idosa e uma adolescente.
As protagonistas: avó e neta.
A tomada era close na avó deitada, com expressão triste,
Adoentada e abatida, muitas leituras a partir daí,
Miséria, solidão abandono, infelicidade, guerra, luta, vida, desencanto, paz, amor...
Amor, uma palavra gasta... um sentimento roto...
Mas mágica.
Da menina, provavelmente em seus 14 anos, apenas ouvia-se a voz.
Duas personagens sem destino.
Ela, a menina constantemente questionava a sua avô:
“- Vó, você me ama?” – E a avó lhe respondia com doçura:
“- Eu cuido de você desde que você nasceu.” - E a neta insistia:
“- Vó, você me ama?” - E a pobre senhora lhe respondia com carinho:
“ – Nunca deixei te faltar nada.” - A menina não parava de fazer infinitamente a mesma pergunta:
“- Vó, você me ama?” - E a avó jamais deixava a criança sem resposta:
“- A minha vida inteira dediquei a você. Eu te dei casa, comida, carinho...
“- Vó, você me ama?” - Em nenhum momento se viu aquela senhora se abater, ou se irritar pela insistência da garota em querer tirar dela uma resposta. A garota perguntava insistentemente a mesma coisa o tempo todo.
“ – Querida neta, estou viva por sua causa.”
“- Vó, você me ama?” - Eis uma jornada vã e sem fim de amor numa situação sem esperança. Um amor imenso, tão grande, incondicional, capaz de ser expresso numa forma sem fim do que a menos e objetiva frase feita e gasta: “Eu te amo!” Há inúmeras formas de se dizer o quanto alguém é importante em nossa vida, o quanto ela é especial e o quanto nós a amamos do que a simples e universal frase de efeito. Talvez pensem que a frase que maior defina um sentimento verdadeiro ainda seja “- Eu te amo.” É impactante, não? Quem não gosta de a ouvir?
“- Vó, você me ama?” Nem sempre expressamos nossos sentimentos através de palavras, às vezes são através de atos e gestos; talvez por medo, por timidez ou costume de criação, independentemente de ser certo ou errado, as pessoas desejam ouvir todos os dias o quanto elas são importantes, amadas e queridas em nossas vidas.
...
O filme é sublime, uma verdadeira declaração de amor.
E quanto a minha insônia... bem, deixe pra lá.
Karenina Rostov
Direção e Roteiro: Dana Tal
País: Israel
Ano: 2005
Curta: aprox. 6 min.
O filme ganhou o prêmio da Fundação Jerusalém para obra experimental em vídeo no Festival de Israel.
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