terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Eu sei o que vocês fizeram no ano passado

É verdade. no ano passado homenageamos o maior escritor do Brasil: Machado de Assis.

http://www.youtube.com/watch?v=YphuVxsWwU4


E neste ano de 2009, elas não devem parar!


Letra do samba-enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel - Carnaval 2009

“Mocidade apresenta: Clube Literário – Machado de Assis e Guimarães Rosa…
Estrelas em Poesia!”

Reluzente, estrela de um encontro divinal
Risca o céu em poesias
Traz a magia pra reger meu Carnaval
Despertam das páginas do tempo
Romances, personagens, sentimentos…
Machado de Assis que fez da vida sua inspiração
Um literato iluminado
As obras, um destino a superação
Nos olhos da arte, reflete o legado
Do gênio imortal, do bruxo amado
Que deu ao jornal, um tom verdadeiro
Apaixonado pelo Rio de Janeiro
A canção do meu sarau, te faz sonhar

A emoção vai te levar
A estrela adormece, na paz do amor
Abençoado um novo sol brilhou
O vento traz Rosa de Minas

Rosa do mundo pra te encantar
Palavras que tocam a alma
Fascinam e tem poder de curar
Pelas veredas do sertão, a fé, o povo em oração
Pedindo a santa em romaria, pra chover em nosso chão
Mistérios na vida desse escritor
Revelam histórias de um sonhador
Brasil de tantas artes, nas letras sedução
Herança em cada coração
Mocidade, a sua estrela sempre vai brilhar

Um show de poesia, em nossa academia
Saudade em verso e prosa vai ficar

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Violência Gratuita

(Funny Games)

Dois mais dois são quatro. Cinco mil anos para se entender isso. Sempre haverá violência gratuita. Em nenhum tempo se entenderá isso.

São tantos os tipos e modos de violência, em todos os tempos e todos os lugares. A violência verbal é só uma delas, e é tão agressiva quanto a física: ambos ferem e machucam como o machado. Mas o objetivo aqui não é listá-los.

Esta semana acompanhou-se pelos meios de comunicação mais alguns casos de VIOLÊNCIA GRATUITA que chamou a atenção. Uma delas tendo como protagonista uma brasileira grávida fora de seu país agredida por três rapazes (a versão desse fato ainda não está esclarecida; independente do que aconteceu realmente não tira o mérito de um ato de extrema violência); a outra aconteceu com uma menina de cinco anos, morta porque chorou ao ver seu pai sendo assassinado. Parece que ninguém mais se choca quando presencia algo do gênero; age-se como imunes e vacinados, não demonstrando reação de revolta, raiva ou qualquer sentimento de pena ou culpa. Talvez pela própria impotência: fazer o quê? Isso é fato. É real. E cada um com o seu individualismo.

E sempre se falou que a arte imita a vida. Ou a vida é que imita a arte? Há uma inversão de valores. A vida já não vale nada. A arte é ficcional. A arte baseia-se no real. O conceito de estética cinematográfica como sinônimo de entretenimento há muito já não existe. As novas mudanças são facilmente reconhecidas no cinema inovador do austríaco Michel Haneke. Ele, em seu filme Funny Games NÃO deixa o expectador ficar à vontade. Certamente se você ainda não assistiu ficará perturbado e chocado com a trama. A história é banal, só que envolve o expectador de tal maneira que o torna praticamente conivente e cúmplice das as situações de violência.

Só de se pegar o filme, já sabendo de antemão a sua sinopse, um thriller provocante e brutal de uma família em férias que recebe a inesperada visita de dois jovens profundamente perturbados, torna-se responsável por aquilo que se assiste. A partir daí as férias de sonhos dessa família se transforma em pesadelo quando são sujeitados a inimagináveis terrores e provações para continuarem vivos. A violência é sutil, ela é apenas sugerida. Paul e Peter, personagens impecavelmente vestidos de branco, a cor que simboliza pureza, iniciam seus jogos de sadismo e horror com a família (homem, mulher, o filho e o cão) sempre intitulados com frases de duplo sentido, engraçadas infantis, chegando a ser um JOGO ENGRAÇADO, brincadeira de criança.

O fato inusitado nesta história que Haneke presenteia seu público começa quando Peter, o líder da dupla delinqüente, fala com a câmera com a certeza da presença do expectador, não pura e simplesmente como um voyeur, mas com a certeza de que ELE faz parte desse jogo e é conivente, não estando ao lado da família, mas apoiando toda a maldade que ali se instalou e impera. Às vezes um deles dá umas piscadas como que autorizando e confirmando com o espectador a aceitar essa condição, lembrando-o de vez em quando que está vendo um filme e, pior do que isso, colocando-o na inusitada posição de cúmplice passivo do ato de violência.

Bem ou mal, quem o assiste acaba fazendo parte da narrativa. É um filme não confortável porque quase que obriga a fazer parte da história e tomar partido dela. Parece que o real e o imaginário fundem-se. A tal linha tênue que separava ambos não existe aqui.

É uma receita velha para ingredientes novos. O cinema com uma nova roupagem, novos elementos instigantes que nos prendem a atenção. Apesar de o título VIOLÊNCIA GRATUITA (a tradução faz sentido), porém, ela quase não é mostrada. E é isso que torna o filme mais genial e inteligente do que ele deveria ser. Tudo é sugerido. Quando vai acontecer algo de terrível e violento a câmera não mostra, se ouve apenas sons dizendo que algo ruim aconteceu. E o resto fica por conta dos devaneios de quem assiste. Tem que refletir. Ou melhor, isso não é necessário.
Uma vez usado o tempo ele não volta mais. Daqui a pouco o agora será passado. Em Violência Gratuita, pode-se retroceder. Pode se alterar a história, ressuscitar os mortos; pode se pegar o controle remoto e fazer as mudanças necessárias. Na arte tudo é possível. Basta querer. Um filme ousado. Gosto disso.

Eis alguns bons motivos para se conferir a mais essa jogada do mestre Haneke. Uma obra prima.
***
Violência GratuitaFunny Games USReino Unido / EUA / França, 2007 -
107 min
Suspense / Drama
Direção:Michael Haneke
Roteiro:Michael Haneke
Elenco:Naomi Watts, Michael Pitt, Tim Roth, Brady Corbet, Boyd Gaines, Siobhan Fallon e Devon Gearhart