sábado, 15 de janeiro de 2011

Depois da Vida - After Life

A cada dia de vida é também um de despedida. E.B.
After Life

Viver nada mais é que morrer a cada dia. Viver é para poucos. A única certeza da vida é a morte. Ninguém sabe o dia de amanhã. Para morrer, basta estar vivo. Está achando o assunto macabro? Quem aqui nunca ouviu ou pronunciou alguma dessas frases? Lembrei-me desse assunto após assistir ao filme After Life (Depois da Vida), que considero o mais instigante dos recém-lançados. Este ‘garimpei’ numa locadora. Há tempos uma história assim não mexia com o meu emocional, o último foi Império dos Sonhos de David Lynch. After Life é um thriller de terror psicológico. Um jeito despojado de contar uma história banal num formato poético e com pitadas de humor negro. O tema nada mais é que um assunto que está super na moda ultimamente no mundo da sétima arte: o que acontece depois que se morre? Existe vida após a morte? Vide Nosso Lar, Chico Xavier, Além da Vida (com Matt Damon) etc, entre outros em cartaz. É o primeiro longa da diretora e roteirista polonesa Agnieszka Wojtowicz-Vosloo que chegou ‘grande’, não deixando nenhuma dúvida para o que veio. O elenco foi cuidadosamente escolhido, contando com a talentosa Christina Ricci que me surpreendeu desde cedo em A Família Adams; o carisma de Liam Neeson no magistral filme A Lista de Schindler e os outros gabaritados, como Alfred Molina, Justin Long, Josh Charles e ainda Chandler Canterbury.

Depois da Vida é um filme inteligente e original. O mais intrigante do ano de 2010. O expectador sai da sessão sem saber o final. E vai discutir em rodas de amigos e cada um argumentará e defenderá seu ponto de vista e não se chegará a conclusão alguma. A dúvida persistirá. Vai se pensar neste filme por um longo período. Talvez chegue a um denominador comum guiado pelas pistas e sinais deixados no decorrer da história. Talvez predomine o bom senso. Mas será o final que de fato o diretor formulou para prevalecer? É uma obra aberta, não escancarada e depois de pronta não tem mais dono, pertencendo a quem se apossar dela, então posso resumir a história que em nada influenciará a quem ainda não assistiu, ou a parte que me pertence.

É a história da jovem Anna (Christina Ricci) que depois de sofrer um acidente de carro é levada para uma funerária local a fim de que seu corpo seja preparado para o velório. A partir daí coisas estranhas começam a acontecer. Ela parece estar viva. Morreu ou não morreu? Eis a questão. O agente funerário Eliot Deacon (Liam Neeson) pode ser um maníaco e a jovem estaria correndo risco de vida (?) e prestes a ser enterrada viva. É tudo verdade ou imaginação?

Confusa, e sentindo-se mais viva do que nunca, começa o drama e a agonia de Anna que enfrenta o diretor da funerária. Anna é (era) professora de ensino fundamental, e nesse dia, coisas estranhas acontecem com ela. O namorado, logo cedo na cama, percebe que ela não estava bem. Ambos vão para o trabalho e combinam de sair para jantar nessa noite. Nesse mesmo dia, após o trabalho, Anna vai à funerária para o velório de um amigo. Lá ela percebe que o defunto se mexe. Seria imaginação dela? Depois Anna resolve passar num salão de cabeleireiro para mudar radicalmente o visual, substituindo o tom escuro dos cabelos para um vermelho vivo. No meio do jantar, o seu noivo decide fazer duas surpresas: entregando-lhe um anel como pedido de casamento e informando que fora promovido e que seria transferido para outra cidade e ela deveria acompanhá-lo nessa mudança. No meio da conversa nesse jantar, Anna entende tudo errado, o casal discute no restaurante, e ela nervosa, sai desesperada, dirige em alta velocidade e acaba sofrendo um acidente. Somente a família é avisada e Paul, o noivo, por enquanto nada sabe.

Paul estranha que nessa noite sua noiva não voltou para casa, nem fazia idéia que nesse momento ela já se encontrava numa funerária. A mãe de Anna vai à funerária e decide enterrar sua filha dois dias depois do ocorrido. Lá começa algo sobrenatural entre a morta (?) e o diretor da mesma. Eliot prepara a moça para o funeral e a partir daí é com o expectador, e começa a viagem entre o estar ou não vivo/morto. Anna não acredita estar morta, apesar de o diretor da casa funerária lhe garantir que ela se encontra numa fase de transição para o “pós-vida”. Anna pergunta como ela pode estar morta se está conversando com ele. E ele lhe responde que tem a capacidade de conversar com os mortos. Afinal, quem está enganando quem? Anna tem certeza que não morreu. O agente funerário lhe aplica uma injeção e inventa uma história dizendo que é para o cadáver estar apresentável no velório. O expectador poderá transitar nessa história entre a verdade e a mentira; morte e vida, natural e sobrenatural algumas vezes. Há situações dando a atender que ela está viva: em um momento, Anna fica sozinha e Eliot esquece a chave da sala lá, e ela tenta sair, mas a chave quebra, e ele, o diretor da funerária, quando descobre que a esqueceu, volta desesperado para lá e sente-se aliviado por saber que ela não conseguiu sair. É uma aventura e tanto desvendar esse mistério, não acha?

A diretora magistralmente desconstrói o gênero terror, e sob uma nova ótica, num exercício elegante e excitante brinca, criativamente, com a metalinguagem. Brinca também com o expectador e inova com as convenções cinematográficas. Reorganiza os signos lingüísticos e seus significantes e significados de Morte, Pós-Morte e Vida. Caríssimo, conhece aquela outra frase “Tem muita gente que já morreu andando por aí e não sabe.”? Pois então, o expectador sai meio angustiado da sessão, também pelas dúvidas que inconscientemente são plantadas na mente. Além de tentar descobrir o que aconteceu com a personagem terá que descobrir o que acontece consigo mesmo. Talvez você se pergunte será que estou vivo? É bom estar vivo? Eu quero estar vivo? Ainda bem que estou vivo? Eu morri? Eu morri e não sei? Isso tudo não passa de brincadeira de mau gosto? Só se pensa na própria morte quando alguém próximo morre. Vai querer resolver isso num divã. Diria que é novo formato de narrar o sobrenatural, em poético-dramática sacudindo o "da poltrona” a fim de despertá-lo para a vida e para todas as reflexões possíveis, sobre a grande arte de se viver.

Há várias pistas para o expectador tentar desvendar o mistério que paira sobre After Life, entre estar vivo ou não, a protagonista morreu ou não? Decifre, se for capaz! Quando Anna está finalmente preparada para que velem o seu corpo, Eliot, pergunta-lhe se ela deseja sair para a vida ou continuar lá. Agora é com você, leitor, se quiser descobrir o final da história, não deixe de assistir.
Excepcional. Realmente cinema é a maior diversão. Psiu! Ei, você aí que está vivo, não deixe de testemunhar esta história!
Karenina Rostov

Agradecimento: Tiago Soares - Criador do desenho acima
*
Sinopse: Após sofrer um terrível acidente de trânsito, Anna (Christina Ricci) desperta sobre a mesa de trabalho de uma funerária. Eliot Deacon (Liam Neeson), o diretor do local fala que ela não está viva, mas que se encontra na transição entre a vida e a morte e que ele pode falar com ela porque tem a capacidade de se comunicar com os mortos. Assim, ele é o único que pode lhe oferecer ajuda. Paul (Justin Long), o noivo de Anna, sente que algo não vai bem e tem a percepção de que alguma coisa estranha acontece na funerária onde o corpo de sua noiva está sendo preparado para o funeral.

Título Original: Além da Vida
Gênero: Suspense / Thriller / Drama
Direção: Agnieszka Wojtowicz-Vosloo
Elenco: Liam Neeson, Christina Ricci, Celia Weston, Justin Long, Chandler Canterbury, Luz Alexandra Ramos
Ano de Produção: 2009
Lançamento Dezembro: 2010
Origem: EUA
Duração: 104 minutos




4 comentários:

Tiago Schweiger disse...

Ficou ótima a resenha!

esse é um dos filmes que eu vou ter que encontrar e assistir.

Abraços!

E Bernal disse...

Olá, Tiago,

O seu desenho é que ficou ótimo!

Ah, depois que você assistir, please, não esqueça de contar a sua impressão. Estou curiosa para saber.

Beijos.

Not obvious cinema disse...

Que bom descobrir este teu 'esconderijo'. Você me deixou curioso com o filme, vou garimpar nas locadoras.

Rob

E Bernal disse...

Olá, Rob, seja bem vindo!

Descobriu tarde o meu enconderijo somente porque eu estou invisível com esse disfarce.

Ah, depois me conte o que achou do filme.

Beijos.