terça-feira, 27 de março de 2012

Cinema com aspirinas


"O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles)

"O cinema é um modo divino de contar a vida." (Federico Fellini)

"É nos cinemas que se realiza o único mistério totalmente moderno."  (André Breton)

Cinema com aspirinas

Parece que foi ontem minha primeira sessão de cinema numa imensa sala de mil poltronas vermelhas, aos dez anos, para ver um filme grandioso e belo confirmando a tese de que a primeira vez é realmente inesquecível! Sempre haverá um fato marcante em cada momento da vida e, em se tratando da sétima arte e meia – como costumava brincar, pelo fato de Cinema e Literatura ocuparem um espaço primordial em minha vida e ambas são, para mim, necessidades básicas fundamentais como o ar que se respira. Costumo dizer também que somos resultados dos filmes a que assistimos e das leituras que fazemos. sem  desmerecer outras modalidades artísticas.

Estamos presentes em cada filme que assistimos; cenas são como espelhos que refletem imagens da alma, às vezes meio que embaçadas, porta-voz daquilo que desejamos transmitir, muitas vezes nos vemos como as próprias personagens ocupando espaços de meros espectadores nas mais diferentes histórias.

O significado da palavra CINEMA, durante longo período de minha infância era de algo sagrado e profano; ou sagrado ou profano, duas faces de uma mesma moeda, pelo fato de não aceitar ou entender determinadas normas e regras impostas, censurando ao acesso a determinados filmes. Daí passei a criar uma regra pessoal e intransferível de interpretar e entender que não se vai ao cinema, mas ao filme.

Sagrado pelo fato de o espaço físico daquele cinema, estar inserido no contexto de uma escola católica de padres salesianos, os fundadores, e por esse motivo, durante anos a fio, assistíamos a grandes produções cinematográficas de cunho religioso sucessivamente, tanto que a minha primeira vez, como não poderia deixar de ser, foi com o formidável, necessário e inesquecível “Os Dez Mandamentos” o que se tornou o clássico da minha infância, e acabei assistindo a várias sessões em um mesmo dia.

O cinema passou a ter significado profano quando me proibiram de assistir a um determinado filme censurado a menor de dezoito anos. E aí surgiram perguntas sobre o intocável e pecaminoso, e isso fazia aumentar o meu desejo e a minha curiosidade de não saber ou entender determinadas proibições. O filme era ”Boccaccio 70”, de Federico Fellini e Vittorio de Sica. A censura aguçou minha curiosidade. Sabia da existência do livro “Decameron” – As novelas de Boccacio - na biblioteca da escola, e alguns amigos e eu passamos a ler uns aos outros essas formidáveis narrativas transformadas em magia graças à literatura.
Karenina Rostov

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