sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Próxima parada MOSCOU



E tudo o mais que as fronteiras do nosso imaginário permitir. O jogo de cena continua.

Eduardo Coutinho mais uma vez nos presenteia com o ótimo documentário MOSCOU. Para quem assistiu ao JOGO DE CENA, vai ter uma certeza: de que o diretor tomou gosto pela dramaturgia. Nota-se que ele se sente à vontade ao dirigir o elenco teatral. O elenco do Grupo Galpão recebeu de seu diretor Enrique Diaz o texto da nova peça somente no dia da filmagem. O texto a ser encenado, AS TRÊS IRMÃS é da autoria do clássico russo Anton Tchekhov. É a história de Olga, Masha e Irina, mais um irmão que moram numa província na Rússia, mas sonham voltar a Moscou.
O interessante no filme é a bagunça generalizada. Os atores, ora ensaiam, ora representam, ora falam de si mesmos e de algumas lembranças de infância, de lugares e sensações, não se sabe ao certo quando é real e quando é ficção; a linha tênue que separa os dois lados se rompeu. E o ensaio do ensaio dos textos fica parecendo que nada foi ensaiado. Já foi a algum ensaio aberto ao público? Na verdade é isso que se passa no filme. Repassam o texto juntos ou separados, brincam, comem, namoram, alguém faz declaração de amor e não se sabe se é real ou não, e algumas coisas mais. Ficou incrivelmente bom; bem natural, exatamente os bastidores de um ensaio teatral.

Na verdade, Eduardo Coutinho fez uma proposta ao Grupo de ensaiar uma peça que nunca seria montada, seria apenas para realizar esse trabalho de documentário em cima de uma encenação pelo objetivo de mostrar essa linguagem investigativa entre a arte e a realidade à telona. Uma boa idéia, não? Adorei!

Adorei muito mais a escolha do texto de Tchekhov, não podia ser melhor, pois tem tudo a ver com o propósito do diretor de realizar. O sonho de consumo de uma família decadente é voltar para Moscou tentando realizá-lo a qualquer custo, mesmo sabendo que é um sonho quase impossível, uma utopia. Não é um simples documentário. De fato, não documenta como se monta uma peça teatral, as linguagens se fundem, as falas dos atores se misturam constantemente, às vezes não se sabe quem deveria falar o quê, quando e por quê? Fotos e fatos para trazer à tona lembranças pessoais.

Para quem gosta de originalidade, não deve deixar de apreciar esta obra de arte. Mesclar teatro ensaios, cinema, real, imaginário e finalmente Tchekhov, apesar de parecer que documentário é simples e fácil de se fazer, ledo engano, uma vacina nova, não deixe de tomar. Só pela idéia, TUDO já me fascinou, e o resultado me surpreendeu. É um filme sedutor.
Karenina Rostov

MOSCOU
By Eduardo Coutinho


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