sexta-feira, 29 de julho de 2011

O AMOR banalizado...



Amor - termo acessório da oração

Quando a esmola é muita, o santo desconfia. Nem tudo que reluz é ouro! ...me engana que eu gosto! Esses ditados em algum momento funcionam para representar uma situação que nos deixa com a pulga atrás da orelha. E tem uma aqui me incomodando e preciso por isso vomitar. Nunca escondi que sou piegas fervorosa, que quando gosto de alguém, abro o verbo e vou à luta, falo mesmo na lata e pelos cotovelos o que meu coração manda sem pedir licença a ninguém. O que há tempos vem me chamando a atenção é que a frase que utilizamos para expressar o sentimento maior, mais puro e verdadeiro, de repente, banalizou-se, tornou-se uma piada de mau gosto. Como diria Victor Hugo na sua obra Os Miseráveis "A suprema felicidade dessa existência é ter-se a certeza de ser amado; amado por si mesmo, ou melhor, a despeito de si mesmo.” Amor, não é somente uma simples palavra, mas um sentimento que carrega a maior carga da mais sublime energia e que agora sendo falsamente profanado pelas esquinas como um mero vocativo. “Amor i love you”, as pessoas dizem isso com a maior naturalidade do mundo, como sendo eterno.

Sem dúvida que os tempos mudaram, nem discuto essa questão, ficar comparando aos tempos dos avós nem tem cabimento quando diziam que se falar para alguém “Eu te Amo”, era a coisa mais difícil e complicada do mundo, o homem principalmente, jamais ou dificilmente a pronunciava, só os poetas mesmo! Tem gente que morria e não a proclamava e hoje em dia a frase mágica de efeito, banalizou-se. Ouve-se constantemente pessoas a utilizando falsamente “amor daqui, amor da minha vida de lá”, “eu te amo daqui, eu te amo de lá”, às vezes percebemos que soa até comicamente, engraçado, sem mesmo experimentar o gosto salgado do suor e da lágrima, a acidez da saliva quando se acorda, a cara amassada e o cabelo desgrenhado pela manhã, o odor inconfundível do amor ardente sob os lencóis por toda madrugada,  e o cheiro vencido nos fins de tardes calorentos após um dia exaustivo de trabalho, de um banho matinal caprichado ao se levantar vencido e quantas outras coisas mais? Eu mal te conheço, mas eu te amo! Hoje se alega ser um sentimento profundo e arrebatador em frente a platéias desconhecidas, dos que “nunca te vi mais gordo”, mas você é testemunha auditiva do que estou falando para essa pessoa, você é testemunha leitor o que escrevi para essa pessoa porque ficará como monumento registrado que eu a amo. Agora pode "curtir". O que a pessoa conseguirá com essa falsidade toda, só mesmo sendo idiota para não desconfiar, ou fingir acreditar que isso é a mais pura verdade. Bonitinho, mas soa falso, desculpa, esse filme já vi e sei como termina.

Amor à primeira vista, à primeira teclada, ao primeiro som de voz, sim, existe! É belo e verdadeiro e tem cheiro de flor da manhã do campo e pureza da neblina. Acredito. Mas acredito também que é na convivência diária ao longo dos anos é que se construirá o verdadeiro amor.

Será que tudo realmente é amor? Uma pessoa fala mal da outra e daqui a pouco passa a chamá-la de "amor". A busca frenética por esse sentimento talvez seja a razão da banalização. São tantos os questionamentos e eu nem sou uma expert no assunto, apenas estou dizendo o que penso. Pode ser que esteja tudo errado.

Não se precisa de mil e uma noites de amor para se provar nada, tampouco a frase já tão gasta. O amor verdadeiro não precisa da expressão de efeito constante. Basta um gesto, um olhar, um carinho capaz de expressar com sinceridade o que mil palavras não conseguiram.

Amor é muito mais que um simples vocativo. Vive-se um sentimento superficial, de aparências, puro fingimento, um comportamento falso, e estranho, alguma razão tem para tanta superficialidade, e outro ditado diz que no amor e no jogo depende da sorte, e ninguém joga para perder e não se precisa de sinônimos nem tradução para a palavra ‘sorte’.

Amor verdadeiro existe sem precisar de propaganda nem ninguém precisa ficar sabendo, exceto a pessoa amada ao pé do ouvido à meia noite na escuridão total, somente um murmuro basta, é o suficiente e que o sinta verdadeiramente no fundo da alma.

E me lembrei de um filme que vi recentemente falando de uma canção na qual a mulher diz a bendita frase e o homem lhe responde, adivinha o quê?

A mulher: Je t’aime. (Eu te amo)
E o homem: Moi non plus. (Nem eu)

Sabe, querido, Eu te amo! Bem, eu sou poetisa...

Eunice Bernal

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