domingo, 15 de agosto de 2010

Filmes que citam livros

 Já falei aqui numa outra ocasião que o cinema está sempre citando os clássicos da literatura ou é a própria literatura. O livro O Apanhador no Campo de Centeio deve ser o recordista, tanto que já perdi a conta de quantos filmes o citaram, (exagero da minha parte) aparece em Teoria da Conspiração e no filme Capítulo 27; Oliver Twist é o Charles Dickens, não? Woody Allen cita constantemente Dostoievski em suas obras. Em Match Point, no desfecho, o protagonista  está lendo Crime e Castigo, depois de se tornado assassino, comemorando por não ter sido descoberto (Crime perfeito?)  Em O Morro dos Ventos Uivantes é o próprio de Emily Bronte é citado no filme A proposta; Meu Primeiro Amor cita Guerra e Paz de Tolstói; já o filme 10 Coisas que Odeio em Você é o próprio de Shakespeare; O filme O Clube de Leitura de Jane Austen que obviamente fala sobre as obras da própria; em Um Amor para Recordar, há uma encenação de obras de Shakespeare. No filme O leitor cita obras de Tchekhov, e por aí vai...

O filme A casa do Lago que revi recentemente, além de citar Persuasão de Jane Austen, cita também o clássico de Dostoiévski, Crime e Castigo, logo na cena inicial na conversa entre mãe e filha:

“Kate (Sandra Bullock) – O que é isso?

Mãe – Nada de importante. É um livro do seu pai.

Kate – Dostoievski?

Mãe – Huuuummm, sim! É sobre um homem que quebra o pescoço de uma pobre mulher com um machado. Aí ele se martiriza e se arrepende.

Kate – Gostou?

Mãe - Gostei, muito bom!

Mãe – Hummm, o que está pensando?

Kate - Nada...

Mãe – Quando seu pai faleceu foi penoso.... ao segurar os livros dele eu sinto que está comigo... saber que ele leu as mesmas páginas, as mesmas palavras... “
*
CRIME E CASTIGO – DOSTOIEVSKI
 (Fragmentos)

"Há muito tempo que já se enraizara e crescera nele toda a tristeza que sentia agora; nos últimos tempos ela se acumulara e se reconcentrara, assumindo a forma de uma horrível, bárbara e fantástica interrogação que torturava o seu coração e a sua alma, reclamando uma resposta urgente."

"Mas a ciência hoje diz: 'Antes de mais nada ama-te a ti próprio, porque tudo no mundo está baseado no interesse pessoal. Se amares a ti próprio farás os teus negócios como devem ser, e o teu cafetã permanecerá inteiro'."

"Acham que eu estou assim porque eles mentem? Tolice! Eu gosto que eles mintam! A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais. Mente, que vais acabar atingindo a verdade! É precisamente por ser homem que eu minto. Nem uma só verdade poderias alcançar se antes não mentisses quatorze vezes, e até cento e quatorze vezes, o que representa uma honra sui generis; simplesmente, nós nem sequer sabemos mentir com inteligência! Tu mentes, mas mentes de uma maneira especial, e eu ainda por cima te dou um abraço. Mentir com graça, de uma maneira pesssoal, é quase melhor que dizer a verdade igual todo mundo; no primeiro caso é um homem e, no segundo, não se é mais que um papagaio! A verdade não anda depressa, mas podemos fazer a vida correr; há exemplos disso."

"Nesse sentido, efetivamente, todos nós, e com muita frequência, somos quase dementes, com a única diferença que os doentes são um pouco mais loucos do que nós, porque repare, é preciso distinguir. Mas é verdade que não existe o homem normal, de maneira nenhuma; talvez entre dezenas, e pode até ser que entre centenas de milhares, apenas se encontra um, e, ainda assim, em exemplares bastante fracos..."

"Após ter pronunciado essas palavras tornou a ficar perplexo e empalideceu; outra vez como que uma nova e terrível sensação de frio mortal lhe correu pela alma, de repente compreendeu claramente que acabara de dizer uma mentira horrível, que não só não teria mais oportunidade de falar com ninguém, como jamais teria de que nem com quem falar. Foi tão violenta a impressão que essa dolorosa idéia lhe causou que, por um momento, se esqueceu praticamente por completo de tudo, levantou-se do seu lugar e, sem olhar para ninguém, quase saiu do quarto."
*
Folhear livros que alguém já tenha lido e uma sensação estranha e uma experiência única. Não sei bem quem leu antes de mim ou quantos leram o meu Crime e Castigo comprado num sebo na época de estudante. Ler é viajar através das palavras e quando o livro é usado, então, como diz um filme que fala de livros, é  uma Historia sem Fim, queremos saber quem, quando, onde, e tudo o mais do livro e dos leitores anteriores, do autor, dos personagens, lugares... lemos e descobrimos novos encantos ao relermos.

K.R.

Nenhum comentário: