Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.
Carlos Drummond de Andrade
40 Sessões
O câncer é ainda a doença que mais mata no mundo. Pode aparecer em qualquer parte ou órgão do corpo, em qualquer idade. Alguns são fáceis de tratar como o de pele, por exemplo, se estiver na fase inicial; outros mais complexos, mais difíceis, como a leucemia que depende de doação de medula compatível, mas tem cura. Houve um tempo que pronunciar essa palavra era quase uma heresia, de tão terrível moléstia, e por isso como forma de abrandá-la usava-se o seguinte eufemismo: Fulano está com 'aquela doença' .
Dos quatro irmãos, eu fui premiada com “aquela doença” Ahahaha.. Sim, tive câncer. Dei muito trabalho aos meus pais, devo a eles... minha gratidão eterna, é uma dívida impagável.
Sou a única da família (que eu saiba) a ter câncer. Geralmente se vai ao médico quando se está doente ou para tratamento de alguma moléstia específica, e o profissional da saúde automaticamente faz com que o paciente se sinta à vontade com inúmeras perguntas e depois preenchendo formulários sobre determinadas questões relacionadas a doenças em família, a fim de descobrir se se trata de algo hereditário. Certas doenças são herdadas, exatamente como acontece com os genótipos: cor de olhos, cabelos, pele etc.
Meus pais só foram saber que eu estava com retinoblastoma, um câncer raro e em estado avançado, tardiamente, depois de horas, de tanto percorrer a muitos hospitais, até terem a certeza do diagnóstico, de todos os médicos consultados, eu, aos dois e meio de idade. Fiz a minha primeira cirurgia radical. Depois a cirurgia vêm as 'delicadas' sessões de cobaltoterapia, radioterapia e quimioterapia. Se o mal é inevitável, eu quero gozar no final.
Na verdade foram setenta sessões. Pode ter certeza que eu sobrevivi. Fiz outras cirurgias dando continuidade ao tratamento; em São Paulo, no Hospital das Clínicas; no Rio de Janeiro, no HCE, entre outros. Hoje enxergo 30%, o que já é suficiente, pois há tanta coisa que não é necessário ver para crer. Enfim, continuo levando a vida normal, e deixo ela me levar de vez em quando. Trabalho, me divirto, namoro, estou na luta.
Lembrei-me de uma citação do educador Paiva que diz o seguinte:
“Temos o direito de ser iguais sempre que as diferenças nos inferiorizam, temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza.” Paiva.
Então, por que essa lembrança agora?
Ser diferente dos outros não é, não foi, e nunca será normal. Cada um é único e exclusivo exemplar no mundo, com suas virtudes, seus anseios, seus temores, suas qualidades, seus defeitos, seu modo de pensar, julgar, decidir, agir e de conceber a vida e tudo que o cerca.
De repente você estava aí pensando que mais uma vez eu iria falar de sétima arte, não? Quarenta sessões parece coisa de cinema. Ledo engano.
Lembrei-me desta história que ainda não tinha contado aqui por ene razões:
O mundo anda tão complicado, são tantos precisando de ajuda que não sabemos nem por onde começar e a quem ajudar.
Gente sem casa;
Gente sem comida;
Gente sem família;
Gente sem pátria; Gente sem esperança.
Uma das campanhas da fraternidade que nunca esqueci foi a do slogan que diz:
“Ninguém é tão pobre que não possa dar; ninguém é tão rico que não possa receber."
O mundo precisa de prece e de doação; fazer caridade não é pecado. Não precisa ser famoso, nem ser grande empresário, apenas boa vontade. É o suficiente.
Eu indiretamente ajudava o hospital do câncer, em especial o de mama, com um gesto simples que não implica nenhum esforço físico ou emocional; apenas uns trocados basta para comprar a camiseta com o símbolo "Alvo da Moda", faz-se muito por tão pouco.
Encontre uma maneira de você também ajudar a fazer alguém sorrir.
E. Bernal
E. Bernal
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