sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nunca se Viram, mas se Amaram

 J. G. de Araújo Jorge poeta brasileiro e Maria Helena poetisa portuguesa nunca se viram mas, ao modo deles, se amaram...

Antes, muito antes do advento do mundo virtual, das salas de bate-papo, dos e-mails, do Orkut, Facebook, MSN, Twitter etc, pessoas se comunicavam através de cartas pelos correios. Era um tempo de mais romantismo; o namorado ficava ao portão aguardando ansiosamente a chegada do carteiro. Sinto saudade...

Lembrei-me da história do poeta brasileiro J.G. de Araújo Jorge que conheceu através de cartas a poetisa portuguesa Maria Helena.

Foi Maria Helena que começou a escrever ao poeta sob o pseudônimo de MUSA TRISTE, por muito tempo, só depois é que ela lhe revelou a sua verdadeira identidade.Trocaram cartas, livros, segredos  e sentimentos. E toda poesia dele ela se inspirava a escrever como resposta, ou melhor, ela as recriavam. A troca de poesia foi intensa, havia tanto material e amor entre ambos que resolveram escrever um livro juntos. O resultado desse amor platônico chama-se  CONCERTO A QUATRO MÃOS.

J.G. em uma de suas cartas a Maria Helena escreveu dizendo ser um poeta brasileiro dos menores (eu não acho) dos mais silenciados nas torres altas, feliz porém, porque dos mais festejados nas praças e nas ruas (quase ninguém o conhece, a literatura não o cita , não o re-conhece) foi despertar na alma de uma grande poetisa portuguesa belos e imortais acordes. Milagre da poesia.
Seus versos bateram asas, de inóspita ilha, como perdida gaivota, e foram procriar altos cantos em horizontes distantes, em terras imprevistas.  J.G. 

Segue poemas que ambos trocaram:

Canção do Meu Abandono


Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Que importa se as ruas estão cheias de mulheres
esbanjando beleza e promessa
ao alcance da mão?

Se tu já não me queres
é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo!
Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso
rindo feliz, como um guiso
em tua boca?
E todo momento
mesmo sem te beijar eu estava te beijando:
com as mãos, com os olhos, com os pensamentos,
numa ansiedade louca!

Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos, os meus
nos teus,
os teus
nos meus,
se misturavam confundindo as cores
ansiosos como olhos
que se diziam adeus...

Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos
e nos meus,
era êxtase, ventura, infinito langor,
era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura
de ternura com ternura
no mesmo olhar de amor!

Ainda ontem, cada instante era uma nova espera...
Deslumbramento, alegria exuberante
e sem limite...
E de repente,
de repente eu me sinto triste como um velho muro
cheio de hera
embora a luz do sol num delírio palpite!

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas
quando inteira te despi,
nem de alegrias incalculadas
depois que te senti...

Depois de te amar assim, como um deus, como um louco,
nada me bastará, e se tudo é tão pouco...
... eu devia morrer...
J.G. de Araujo Jorge

Canção da Minha Esperança


Não! A gente não morre quando quer,
Inda quando as tristezas nos consomem.
Há sempre luz no olhar de uma mulher
E sangue oculto na intenção de um homem.

Mesmo que o tempo seja apenas dor
E da desilusão se fique prisioneiro.
Vai-se um amor? Depois vem outro amor
Talvez maior do que o primeiro.
Sonho que se afogou na baixa-mar,
De novo há de erguer, cheio de fé,
Que mesmo sem ninguém o suspeitar,
Volta a encher a maré.
Não penses que jamais hás de achar fundo
Nem que entre as tuas mãos não terás outra mão.
Pode a vida matar o sonho e o sol e o mundo,
Mas não nos mata o coração.
Maria Helena

Ah, como é lindo o amor... deleitem-se! Em outra oportunidade falo do poeta que AMO um pouquinho mais. 

5 comentários:

Eu disse...

A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE!

Eu disse...

NUNCA PARTI.

Eu disse...

PARA QUE TANTA AMARGURA? ENQUANTO HÁ VIDA HÁ ESPERANÇA!

Heloisa de Mesquita Inoue disse...

Fiquei muito feliz de encontrar o seu blog! Minha fase romantica foi toda traduzida pelos poemas de JG DE ARAUJO JORGE! Quando vc souber onde comprar o livro Concertos a quatro mãos, me avisa,tá? Obrigada!

E Bernal disse...

Oi, Heloisa,

A minha fase romântica continua até agora. Será ele o responsável? (Rs) Eu costumava escontrar os livros dele na LIVRARIA NOBEL em São Paulo. Segue o link:

http://www.franquianobel.com.br/

Obrigada pela visita!