domingo, 11 de outubro de 2009

Rio, um Momento Mágico do Festival

Darbareye Elly (About Elly) – 2009.


Sinopse


Após anos a viver na Alemanha, Ahmad está de volta ao Irã. Três dos seus antigos colegas de universidade decidem organizar três dias de férias. Uma das mulheres do grupo, a alegre Sepideh, fica encarregada dos preparativos e convida Elly, a professora da escola de enfermagem da sua filha.

Ahmad, saído recentemente de um casamento infeliz, gostava de assentar com uma mulher iraniana. Sabendo disto, os amigos gradualmente se apercebem porque Sepideh convidou Elly. Esta passa a ser o centro das atenções e cada um procura realçar as suas melhores qualidades.

No segundo dia, quando tudo parece correr como planejado, um incidente conduz ao desaparecimento de Elly. Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim 2009.

Origem: Irã
Duração: 119 minutos
Tipo: Longa-metragem
Realizador: Asghar Farhadi
Gênero: Romance / Drama
Argumento e Roteiro: Asghar Farhadi
Director de Fotografia: Hossein Jafarian
Montagem: Hayedeh Safiyari
Produção: Asghar Farhadi
Música: Andrea Bauer
País de Produção: Irã
Ano de Produção: 2009
Duração: 119’
Língua Original: Persa

À Procura de Elly

Depois da ressaca do Festival de Cinema do Rio 2009, voltamos à nossa programação normal, não menos sem comentar um filme que me chamou a atenção e que merece ser citado para não cair no esquecimento. É o longa iraniano - Darbareye Elly / About Elly - dirigido por Asghar Farhadi.


A história toda gira em torno de mentiras. Não era para ser, mas uma mentira acoberta outra, para não ser descoberta; torna-se uma bola de neve, e dificilmente se sai dessa enrascada bem. Às vezes ela não tem limites; às vezes ela parece sincera. Mentiras enganam, destroem. Quem mente sempre fica numa situação constrangedora, e quando descoberto, vive-se angustiado. E uma mentira leva a outra exatamente pelo fato de ocultar a anterior pela vergonha e passa-se a medir as palavras e se policiar para não se trair, e uma sensação ruim vai ocupando espaço e tempo; vive-se tenso, preocupado, irritado...

Elly é uma jovem professora que foi convidada pela mãe de uma de suas alunas para uma viagem de três dias com um grupo de amigos a fim de comemorar a volta de Ahmad da Alemanha; ele que acabou de se separar de sua esposa e retorna ao Irã.

Elly hesitou, porém, acabou cedendo e aceitando, por insistência, fazer essa viagem com o grupo. A vida de Elly para o grupo de amigos era um mistério. Sepideh, que a convidou a conhecia vagamente, mas não sabia nem ao menos o seu nome completo.

Sepideh queria era mais juntar o casal Elly e Ahmad (o recém-separado). Só que ninguém sabia que Elly era noiva há seis anos, e que não suportava o noivo, mas não terminava a relação por pressão dele que a ameaçava se ela o abandonasse. Alguns do grupo teria que ir à cidade para fazer compras e deixaram três crianças sob a responsabilidade de Elly. Uma delas se afoga no mar, e nesse instante, pelo desespero de todos na tentativa de salvar a criança, não se dão conta de que a professora também desapareceu. Ninguém sabe o que aconteceu. Se ela foi embora, porque de fato não estava se sentindo à vontade com o grupo que fazia brincadeira sobre formar um novo casal, se ela havia se arrependido e que teria ido embora, ou se teria se afogado na tentativa de salvar a criança do afogamento.

Sepideh que a convidou, estava se sentindo culpada. Ela confessou que Elly resolveu ir embora. Mas naquele momento não se sabia se ela decidiu de fato ir, ou se estava no mar na tentativa de resgatar o garoto, ou se teria saído para telefonar. Encontraram a mala e todos os objetos dela, daí concluíram que ela não poderia ter partido. Só que para complicar, Sepideh confessou que escondeu a mala da amiga para que ela não partisse. Encontram o celular dela e descobriram a sua última ligação. Era para um rapaz, e o grupo pensa que era o irmão, mas na verdade era o noivo, enfim, daí começa a construção de mentiras infindáveis, e só em pensar em contar, cansa.

Para o expectador, fica subentendido que ela partiu. O grupo aciona a policia local, que a busca em alto mar, mas nada encontra.

No dia seguinte, o rapaz que se pensava ser o irmão, mas que era o noivo da professora, vai ao local, e as mentiras são combinadas pelo grupo para passar a ele. Ninguém do grupo sabia nada da desaparecida, nem ao menos o nome dela. Elly era apenas um apelido e era filha única. Conta para o noivo que ela se acidentou e está em coma no hospital (mentira!).

No dia seguinte a guarda marinha encontra um corpo e o grupo é chamado para o reconhecimento. O desfecho é trágico. Você pode concluir.

Uma mentira, por mais inocente que pareça, é sempre demais perigosa. Quem nunca mentiu, que atire a primeira pedra.

Karenina Rostov

http://www.youtube.com/watch?v=PuJhq56lLlU

E para ilustrar, um poema que fala a verdade da mentira.

A Implosão da Mentira

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.


Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Affonso Romano de Sant’Anna

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