terça-feira, 23 de junho de 2009

GARAPA SEM PASTEL

GARAPA SEM PASTEL

“Comer é uma necessidade do estômago; beber é uma necessidade da alma.”
Victor Hugo

A linguagem de uma narrativa cinematográfica no formato documental é de extrema importância e valor já que é um constante aprendizado, acrescentando novas informações, somando experiências, matando curiosidades ou especulações de um determinado assunto de total ou parcial conhecimento, que se domina ou não.

Fazer um filme DOCUMENTÁRIO, a princípio, parecer ser algo fácil e simples, bastando uma idéia na cabeça e uma câmera na mão. Mas nada é o que parece ser. A dificuldade é tamanha, tal qual a uma superprodução recheada de efeitos especiais.

José Padilha, cineasta brasileiro, ganhador de muitos prêmios pelos seus filmes TROPA DE ELITE e ÔNIBUS 174, realizou recentemente um documentário intitulado GARAPA.

Garapa é uma bebida nacionalmente conhecida como caldo de cana. Garapa pode ser também qualquer bebida refrigerante mistura de água com açúcar.

O cinema DOCUMENTÁRIO é fascinante. O fascínio está na forma de abordagem, na temática e em todos os ingredientes inseridos. O fascínio daquilo que temos sede de aprender e apreender. E o aprendizado às vezes é doloroso; e a apreensão às vezes maltrata a alma.

Assistir ao documentário GARAPA, é preciso ter estômago de avestruz e sangue de barata. É um filme indigesto. Um filme VERDADEIRO. As verdades de nosso país muitas vezes varrido para debaixo do tapete. O problema existe, e finge-se não ouvir, ver e falar.

GARAPA mostra o drama de três famílias nordestinas miseráveis, e é considerado um dos mais contundentes retratos da fome no Brasil, tendo como único recurso alimentício a garapa (mistura de água com açúcar), e um auxílio de um pouco mais que R$ 50,00, repassado pelo programa bolsa-família ou Fome Zero. O filme é todo em preto e branco (o que torna o documentário menos chocante e violento), sem música, confetes ou serpentinas, tendo como protagonistas três mulheres batalhadoras e seus filhos como figurantes. A tristeza e o drama enfrentados diariamente por essas três famílias não param aí. São vários os fatores: o desemprego, a falta de saneamento, educação e lazer ou programa de controle familiar. Acostumados com a situação, vivem sem nenhuma expectativa.

A fome é um assunto mundial e parece não ter fim. É o pior tipo de violência. Não precisa citar a África, ela está aqui, ao nosso lado, o nosso vizinho, em nosso país.

É um documentário que veio para somar e sensibilizar a todos do grande problema que é essa forma de violência que considero a pior de todas: A FOME. Lembrando que há vários tipos de fome: fome de saber, de conhecimento, de amor, de solidariedade, de amizade, mas a de não ter um pão para se comer pela manhã, nunca comer uma fruta, nem água potável, passar por todo tipo de privação e humilhação, pedindo, esmolando é simplesmente o fim, a pior desgraça que o ser humano NÃO deveria enfrentar.

Para quem é sensível, se choca e passa mal com facilidade com o que fere e maltrata, com as mais diversas formas de violência, este filme não é aconselhável. NÃO ASSISTA em hipótese alguma. Que eu me lembre é o primeiro filme que a censura não é definida. A informação sobre ele diz CENSURA A DEFINIR. Talvez seja um tipo de aviso ao expectador como: CUIDADO, ou ATENÇÃO.

Vivendo e aprendendo e nunca mais ser o mesmo assistindo a documentários. Fará parte de sua história de vida, estará para sempre nas suas células, na mente ou no coração; de alguma forma te modificará. Repensar os valores da sociedade, a ética, seu espaço e liberdade, direito de ir e vir, as obrigações, os deveres, a impotência diante desse caos que não embevece, nem orgulha; entristece e envergonha.

E depois de assistir ao GARAPA o expectador nunca mais será o mesmo. E o assunto não se esgota aqui.
Eunice

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