quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Candelabro Russo

 "Eles são honestos: não mentem sem necessidade." Anton Tchekhov

Candelabro Russo


Anton Tchekhov é um dos grandes autores da Literatura Mundial. O século XIX caracterizou-se por extraordinário momento intelectual e artístico como foi oportunamente chamado de GIGANTES da literatura russa, momento que apareceram nomes dos romancistas, contistas, poetas, dramaturgos, como Puchkin, Liermontov, Turguêniev, Tolstoi, Gorki, Dostoievski e Tchekhov.

Abrindo parênteses para falar de um que merece destaque especial: Anton Tchekhov. Ele era médico por formação, mas como dizem, traiu a profissão trocando-a pela Literatura. Seus livros mais conhecidos são: Contos e Narrativas, Um Duelo, A Estepe, A Minha Vida, A Sala Número Seis, Uma História Sem Importância. Escreveu também para o teatro Entre as suas peças, destacam-se: A Gaivota, Tio Vânia, As Três irmãs, O Canto do Cisne etc. Um de seus contos mais conhecidos é A dama do cachorrinho, de 1899 transformado em filme pelo diretor Nikita Mikhalkov sob o título “Olhos Negros” (Oci Ciornie, 1987) que falarei em outra oportunidade.

Enquanto fazia o seu curso de medicina, Tcheckov já escrevia e colaborava em várias publicações periódicas para se manter e ao mesmo tempo ajudar a família. Escreveu pequenas e concisas histórias ‘short story’ de expressividade e perfeição, como também contos longos, novelas e dramaturgia. Seus contos e suas peças distinguem-se pela chamada “atmosfera”, por causa do clima psicológico todo especial, onde aparentemente acontece pouca coisa, mas que na realidade é um mundo cheio de nuances, de detalhes.

A OBRA DE ARTE é um dos contos autobiográfico. É a história do médico Kochelkov que muitas de suas consultas são pagas pelos seus pacientes com pequenos presentes pelos serviços prestados. Tchekhov, o mestre do moderno conto russo, nos presenteia com essa belíssima história.

Certa vez Sacha um de seus pacientes, depois de curado, volta a procurá-lo em seu consultório a fim de agradecer-lhe pelo mesmo ter salvado a sua vida, e leva-lhe um presente, um objeto muito valioso enviado pela mãe como pagamento, como forma de gratidão e reconhecimento, pelo fato de ele ser filho único e agora estar bem. Ele entrega o presente ao médico e diz ser de valor inestimável por ser uma obra de arte antiqüíssima e rara. O médico ficou bastante lisonjeado e satisfeito por todos os elogios vindo da mãe desse paciente.

Só que o médico ao desembrulhar o presente, imediatamente fez cara de desaprovação, demonstrando deselegantemente não ter gostado. Deve ter pensado ‘presente de grego – inútil!’ Na verdade o presente não era tão feio ou ruim assim. Era um Candelabro, todo trabalhado, com muitos detalhes. Eis a questão: O médico Kochelkov não gostou dos detalhes.

O médico, por educação, disse que não era necessário, que ele faz o seu trabalho como qualquer outro faria, sem segundas intenções.

O rapaz falou tanto do valioso objeto, que pertencia à família, mais precisamente ao seu falecido pai e que a mãe, apesar de ser dona de um antiquário, não o vendia por dinheiro nenhum, e, enfim, teceu preciosos comentários que o médico sem graça, cedeu, não teve escapatória: teve que aceitar na marra o dito cujo.

Sacha colocou o presente em cima da mesa do médico. Era um candelabro de bronze antigo, todo artisticamente trabalhado.

Quando o médico viu o presente ficou decepcionado. Analisou o objeto tristemente.A base do candelabro era composta de imagens femininas como vieram ao mundo, nuas como Eva no paraíso. O doutor comentou que o objeto era não–literário demais, se tivesse ao menos uma tarja preta para disfarçar as partes impróprias e que para aquele lugar, seu ambiente de trabalho não servia, muito menos em sua casa, por causa das crianças.

Caríssimo, o que você faz quando ganha um presente que não lhe agrada? Exatamente! O médico passou-o adiante, presenteando um amigo advogado que por acaso teve a mesma reação, desaprovando e considerando-o indecente e não queria aceitá-lo em hipótese alguma alegando que teria problemas com seus clientes e familiares. Mas para não fazer feio, acabou aceitando por educação. E sabe o que o advogado fez com o seu “presente de grego”? Se falou que também passou adiante, adivinhou! Deu para um comediante da cidade e este por fim, que também não gostou resolveu vender a um antiquário do bairro cuja proprietária era a senhora Smirnova, mãe de Sacha, ex-dona do desprezado objeto.

Todos concluíram que o presente era excelente, porém “indecoroso”. E mais uma vez Sacha retorna todo feliz ao consultório do seu médico, o doutor Kochelkov com outro embrulho debaixo do braço entregando ao médico dizendo ser o outro candelabro que estava perdido, par daquele que ele o presenteara há alguns dias atrás. Tsc, tsc...Tadovski do médico!

Formidável, não? Só mesmo Tchekhov para nos presentear como uma história tão interessante como essa e que temos que passá-la adiante não por desfeita, mas com o maior prazer porque com certeza é A OBRA DE ARTE.

Большое спасибо!

K.R.

Nenhum comentário: